Os domínios morfoclimáticos representam áreas marcadas por uma relativa unidade no que diz respeito aos aspectos naturais de uma região (clima, relevo, vegetação e hidrografia).
O sistema natural da Terra é composto por uma série de elementos que, combinados, resumem-se à litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera. No entanto, é errôneo pensar que esses diferentes fatores comportam-se de forma independente, quando, na verdade, eles encontram-se em constante e ininterrupta interação mútua. Assim, para caracterizar essa relação natural, utiliza-se o conceito de domínio morfoclimático, que nada mais é do que uma forma de classificação dos ambientes naturais, com a sua consequente regionalização.
Nesse sentido, o importante geógrafo Aziz Nacib Ab'Saber elaborou, na década de 1970, os domínios morfoclimáticos brasileiros, demarcando a distribuição espacial dos espaços naturais do país, sintetizando-os conforme aponta o mapa a seguir. Uma importante consideração feita por Ab'Saber é a existência de faixas de transição, que são zonas heterogêneas caracterizadas pela mescla entre um ou mais tipos de paisagem.
Mapa dos domínios morfoclimáticos brasileiros
Observando o mapa, podemos notar que a classificação sugere a preferência pela vegetação na caracterização geral dos domínios brasileiros, havendo também nessas regiões uma tipificação mais ou menos coincidente em suas formas de relevo, suas hidrografias e seus climas. A seguir, faremos algumas considerações sobre cada domínio:
I. Domínio Amazônico – terras baixas florestadas equatoriais
O domínio amazônico coincide quase que totalmente com a área da Floresta Amazônica brasileira, que é uma vegetação equatorial posicionada em baixas latitudes. Em geral, esse domínio é caracterizado pelas baixas altitudes, com predomínio de relevos em planícies, planaltos e depressões, salvo pequenas áreas a noroeste, que por influência dos Andes, possuem alguns picos elevados, incluindo o Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil.
Nessa área encontra-se uma grande quantidade de rios, tornando a bacia do Rio Amazonas como uma das mais ricas bacias hidrográficas do planeta, coletando água de inúmeros afluentes, das constantes chuvas e também de nascentes nivais localizadas nas elevadas altitudes do oeste do continente americano. O clima é do tipo equatorial, predominantemente úmido (em função da evapotranspiração realizada pela floresta), com chuvas constantes, geralmente quente e com baixa amplitude térmica, com médias de temperatura girando em torno dos 24ºC.
A vegetação da Amazônia é comumente segmentada em três subtipos: a) as matas de igapó, localizadas em áreas de constante inundação; b) as matas de várzea, situadas em pontos de inundações periódicas, com destaque para a Seringueira; e c) as matas de terra firme, que não se localizam em pontos de inundações e ocupam a maior parte do espaço, sendo também as maiores espécies.
II. Domínio do Cerrado – chapadões tropicais interiores com cerrados e florestas de galerias
Como o próprio nome indica, esse domínio é predominado pela vegetação do Cerrado, um tipo de bioma relacionado às Savanas. O relevo é quase todo do tipo planáltico, com destaque para as áreas do Planalto do Brasil Central e o Planalto Meridional, havendo uma grande quantidade de chapadas, também chamadas de chapadões, com destaque para a Chapada dos Veadeiros (GO) e a Chapada Diamantina (BA). Assim como no domínio amazônico, o cerrado não apresenta grandes altitudes, com médias em torno dos 500 m acima do nível do mar.
A hidrografia é caracterizada pela presença da bacia do Tocantins-Araguaia. Mas como essa região é considerada como o divisor de águas do país, encontram-se também áreas da Bacia do São Francisco e do Paraná. A existência do Aquífero Guarani também torna essa faixa natural como uma importante zona de recursos hídricos do Brasil. O clima da região envolve a existência de duas estações bem definidas: um verão quente e chuvoso e um inverno com alguns períodos frios e muito seco, ou seja, com baixíssimas umidades.
A maior parte dos solos do cerrado é ácida, porém ricos em ferro e alumínio. Por esse motivo, a agricultura só veio a avançar completamente sobre esse domínio morfoclimático após a descoberta da técnica da calagem, na qual se adiciona calcário para diminuir a acidez do solo e favorecer o plantio. A expansão rápida e descontrolada da fronteira agrícola na região fez com que o cerrado perdesse a maior parte de sua vegetação natural, estando esse bioma hoje com menos de 20% de seu espaço ainda preservado.
III. Domínio dos Mares de Morro – Áreas mamelonares tropicais atlânticas florestadas
Localiza-se em boa parte da faixa litorânea do Brasil, abrangendo o domínio da Mata Atlântica, embora essa vegetação tenha sido quase que totalmente dizimada, restando apenas alguns pontos de conservação ambiental. Há também a presença de algumas pequenas áreas de Cerrado e de Mata de Araucária, situada predominantemente em pontos de maior altitude e menor temperatura.
O domínio dos mares de morro recebe essa denominação em virtude de suas formas de relevo, conhecidas por seu formato convexo, em formas de “meias laranjas”, como se pode dizer popularmente, aparentando literalmente mares de pequenos morros propriamente ditos.
O clima é bastante ativo, agindo diretamente na modelagem do relevo, o que ajuda a explicar a sua aparência acima descrita. As chuvas são frequentes, com médias de 1500 mm na maior parte das áreas e índices maiores em faixas de maiores altitudes, fazendo com que as redes de drenagem sejam abundantes e que predominem os processos erosivos e intempéricos à parte das ações das águas pluviais.
IV. Domínio da Caatinga – depressões intermontanas e interplanálticas semiáridas
O domínio morfoclimático da caatinga envolve, como o nome já sugere, o bioma da Caatinga, o único exclusivamente brasileiro. É um tipo de vegetação que se adapta ao clima semiárido da região, com poucas chuvas, baixa umidade e pouca disponibilidade de água. Essa característica de adaptar-se ao clima seco, com a estratégia de armazenar água em seu interior, é típica de plantas xerófilas.
O relevo dessa região ajuda a explicar, em partes, as condições climáticas locais. Trata-se de uma área de várias depressões, onde o relevo ao redor, sobretudo os planaltos, morros e chapadas, contribui para barrar a umidade advinda das massas de ar, principalmente as oceânicas.
V. Domínio da Araucária – Planaltos subtropicais com Araucárias
O domínio da Araucária encontra-se na faixa subtropical do país, ou seja, em uma faixa do território brasileiro posicionada ao sul do Trópico de Capricórnio. Graças a essa posição latitudinal, esse domínio apresenta temperaturas menores do que os anteriormente citados.
Uma boa parte das formas de relevo é composta por planaltos, constituídos basicamente por basaltos (um tipo de rocha vulcânica), o que indica a presença de vulcanismos em eras geológicas anteriores. A sedimentação dessa formação rochosa deu origem, em alguns pontos, à “terra roxa”, um tipo de solo bastante fértil e favorável ao plantio.
A Mata de Araucária, predominante na região, foi bastante explorada ao longo da história para a produção de móveis e também de papel, de tal modo que resta apenas 10% de sua vegetação original.
VI. Domínio das pradarias – coxilhas subtropicais com pradarias mistas
Situado no extremo sul do Brasil, esse domínio é o prolongamento dos campos ou pradarias localizados nos territórios do Uruguai e da Argentina, com vegetação herbácea e um clima temperado, na região conhecida como pampa gaúcho. É uma região com solos jovens, ou seja, recentemente formados sob o ponto de vista geológico, e com um clima marcado pela intensa pluviosidade, o que atrapalha, de certa forma, a prática da agricultura.
No entanto, há um intenso uso do solo na região. O plantio costuma ser realizado em áreas de várzea, o que foi responsável pela quase extinção das matas ciliares locais, além da atividade pecuária que intensificou o desgaste do solo, havendo várias áreas em que atua o processo de arenização. O Rio Uruguai é a principal drenagem local.