Iara

Iara é uma personagem do folclore brasileiro, de origem indígena, que vive nas águas amazônicas, seduzindo os homens com seu canto e os afogando no fundo das águas.

Ilustração da sereia Iara.

Iara é uma lenda do folclore brasileiro muito conhecida na região amazônica. Acredita-se que ela era uma sereia, ou seja, metade mulher e metade peixe. Iara vivia nas águas dos rios da Amazônia e atraía homens para si com seu canto. Os que eram seduzidos por ela acabavam mortos afogados no fundo das águas dos rios, e os que não se deixavam seduzir pelo canto da sereia ficavam loucos e precisavam de ajuda para se livrar da loucura. Até hoje, sua lenda é tema de produções cinematográficas, como a série “Cidade invisível”, da Netflix.

Resumo sobre a iara

  • Iara é uma personagem do folclore brasileiro e que vivia nas águas dos rios amazônicos.

  • Após uma briga com seus irmãos, seu pai a jogou no rio, mas os peixes salvaram-na e transformaram-na em uma sereia.

  • Ela atraía os homens com sua voz doce e os encantava afogando-os nas profundezas dos rios.

  • Os homens que conseguiram vencer o encanto da iara ficavam loucos e precisavam da intervenção de um pajé para restaurar a vida.

  • Até hoje, a lenda de iara desperta a imaginação das pessoas e é tema de filmes e séries, como “Cidade invisível”, série produzida pela Netflix.

Leia também: Curupira – personagem folclórico conhecido como o guardião da floresta

Afinal, quem era iara?

Iara era uma guerreira muito bonita e corajosa. Seu nome tem origem tupi, que significa “senhora das águas”. Suas qualidades despertavam a inveja em seus irmãos, que começaram a planejar uma forma de matar sua irmã. No dia combinado, os irmãos começaram a brigar com ela, que logo utilizou suas qualidades de guerreira, e, mesmo sozinha, conseguiu se livrar dos ataques dos irmãos e matá-los um a um.

Logo após a briga e a morte dos irmãos, iara tentou fugir da punição do seu pai, que era o pajé da tribo à qual ela pertencia. Apesar da fuga, seu pai a encontrou e a jogou nas águas de um rio que corria na Floresta Amazônica. Para sorte de iara, ela foi encontrara por peixes e resgatada do fundo do mar. Os peixes a transformaram em sereia, e seu corpo se modificou: metade permaneceu mulher e a outra metade se transformou em peixe. Após essa metamorfose, a agora sereia iara voltou para as águas dos rios da Amazônia.

Iara começou a emitir uma melodia atraente por meio da sua voz doce e suave. Os homens que se deixavam seduzir por seu canto eram levados até o fundo das águas e morriam afogados. Já aqueles que conseguiram se manter resistentes e não deram ouvidos para a voz doce e suave vinda da sereia, tornaram-se loucos. Para voltar à sanidade, os homens tinham que obrigatoriamente procurar um pajé para que pudessem ser curados.

Origem da lenda da iara

Nas águas dos rios amazônicos, iara atraía os homens com seu canto para afogá-los no fundo dos rios.

Luís Câmara Cascudo, importante estudioso do folclore brasileiro, afirma que a lenda de iara não tem origem indígena, mas sim europeia. Acredita-se que, no Brasil, a lenda vinda da Europa tenha se adaptado aos elementos da cultura indígena. Segundo o folclorista, a origem teria sido da Grécia, pois os gregos, em sua mitologia, utilizavam sereias como personagens de suas histórias, e elas tinham aspectos humanos e de pássaros. Os portugueses teriam adaptado a personagem com características de peixe no século XV, época em que iniciaram a colonização e atravessaram o Atlântico.

Segundo se acreditava na época, havia uma moura encantada que seduzia os homens e oferecia riquezas. Em troca, o homem que fosse seduzido quebraria o encanto e libertaria a mulher que estava na condição de moura encantada. O termo “moura” faz referência aos mouros, como eram chamados os muçulmanos que dominaram a Península Ibérica, onde se localizam Portugal e Espanha, e foram expulsos pouco antes do início das grandes navegações. Por isso, há essa presença moura na mentalidade portuguesa.

Em Portugal, a crença em seres mitológicos era bastante comum. Durante as grandes navegações, quando os portugueses se lançaram ao mar, a crença em lendas e mitos aguçava a imaginação. Acreditava-se que, quando uma caravela desaparecia no horizonte, ela teria despencado em um abismo e sido devorada por monstros marinhos. Por isso, quando os portugueses desembarcaram no Brasil e iniciaram a colonização, a crença nessas mitologias e o temor desses seres assustadores vieram com os colonizadores.

Principalmente no século XVII, quando a colonização avançou pelo interior do território brasileiro, na região Norte, as lendas europeias ganharam maior destaque por conta da paisagem, a Floresta Amazônica, que, até então, era estranha para os europeus, tornou-se cenário para os seres míticos que se adaptaram à nova realidade e à cultura indígena. As sereias que, na mitologia europeia, habitavam os mares, no Brasil, escondiam-se nas profundezas dos rios amazônicos.

Como o nosso país foi formado por diversas culturas (europeia, indígena e africana), os seres mitológicos europeus se adaptavam às paisagens brasileiras. No caso da iara, acredita-se que a lenda europeia tenha se adaptado também aos elementos da cultura africana. Ela estaria relacionada com a orixá Iemanjá, a deusa do mar.

Não é apenas no período colonial que a lenda de iara se faz presente. A sereia se tornou símbolo da força feminina, pois a personagem mítica era guerreira e derrotou os irmãos que queriam matá-la. Recentemente, a Netflix lançou a série brasileira “Cidade invisível”, e uma das personagens é inspirada em iara. Assim como na lenda europeia que desembarcou no Brasil, as produções cinematográficas que retratam algum ser mítico não seguem rigorosamente o enredo original, fazendo adaptações.

Por: Carlos César Higa

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