Cuca

A Cuca é uma personagem do folclore brasileiro descrita como uma bruxa com cabeça e cauda de jacaré e garras de águia. Segundo a lenda, a Cuca rapta crianças desobedientes.

A Cuca é um personagem do folclore brasileiro que possui aspecto híbrido de mulher e de jacaré.

A Cuca é um dos principais personagens do folclore brasileiro, popular em todo o território nacional. A lenda é originária do Velho Mundo e chegou no Brasil no Período Colonial. Inicialmente a Cuca era representada como uma bruxa, uma mulher idosa, com cabelos brancos e corcunda, embora pudesse ser descrita como um dragão, como um vulto, entre outras formas. Em nosso país, por causa da obra de Monteiro Lobato, ela passou a ser representada como uma bruxa com cabeça e cauda de jacaré, com garras de gavião e grande cabelo louro. A televisão também ajudou a popularizar essa imagem da Cuca. Presente em uma das mais tradicionais cantigas de ninar do Brasil, a Cuca rapta crianças desobedientes ou que tardam a dormir.

Leia também: Saci-Pererê — um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro

Resumo sobre a Cuca

  • A Cuca é um dos principais personagens do folclore brasileiro, presente em diversos livros, músicas e séries televisivas.

  • A obra O Saci, de Monteiro Lobato, foi importante para a popularização da lenda da Cuca em todo o território nacional.

  • No Brasil, ela passou a ser representada como uma bruxa com cabeça e cauda de jacaré, com garras de gavião e grande cabelo louro.

  • A lenda da Cuca é originária do Velho Mundo e chegou no Brasil no Período Colonial.

  • Na Península Ibérica o Coco era uma espécie de Bicho-Papão, que captura crianças desobedientes. Também existia sua versão feminina, a Coca.

  • Uma egiptóloga brasileira defende que uma antiga deusa egípcia deu origem à lenda da Cuca.

  • Desde a década de 1950 diversas séries do Sítio do Picapau Amarelo foram transmitidas na televisão, a Cuca sempre foi um dos principais personagens dessas séries.

  • Ainda hoje a canção Nana neném é cantada para crianças de todo o Brasil; nessa canção centenária, a “Cuca vem pegar”.

O que diz a lenda da Cuca?

A lenda diz que a Cuca anda pelas ruas durante a noite, sempre pelas sombras, procurando crianças que são desobedientes ou que demoram a dormir. Ela rapta essas crianças e pratica maldades contra elas em sua caverna.

Existem várias histórias sobre a Cuca; uma delas é que a cada mil anos surge um ovo que dá origem a uma nova Cuca, sucedendo a anterior, que se transforma em um pássaro. Outra lenda afirma que a Cuca só dorme uma vez a cada sete anos e que, neste momento, ela pode ser assassinada; essa lenda se popularizou através da obra de Monteiro Lobato.

Características da Cuca

Até o início do século XX a Cuca era geralmente representada em nosso país como uma idosa, magra, corcunda e de longos cabelos brancos. Mas, a partir da década de 1920, sobretudo por causa da obra de Monteiro Lobato, ela passou a ser representada como uma bruxa com cabeça e cauda de jacaré e garras de gavião.

Em 1952, estreou na TV Tupi a série Sítio do Picapau Amarelo, baseada na obra homônima de Monteiro Lobato. Nessa época, apenas dois anos após a primeira transmissão televisiva no Brasil, a tevê ainda era ao vivo, com as apresentações do atores assemelhando-se ao teatro. Em 1977 foi a vez da Rede Globo de Televisão, em parceria com o Ministério da Cultura, lançar a série Sítio do Picapau Amarelo. Nela, a Cuca foi representada como uma jacaré bípede e com grandes cabelos louros, forma pela qual ela passou a ser representada em todas as séries que foram lançadas posteriormente.

Origem da lenda da Cuca

Alguns pesquisadores brasileiros se debruçaram sobre a origem da lenda da Cuca, entre eles Câmara Cascudo e Margaret Bakos. Esses pesquisadores apontam diversas hipóteses para a origem da lenda.

Para Câmara Cascudo e diversos outros folcloristas, as tradições ibéricas deram origem à Cuca. Em Portugal, na região do Minho, era tradição a produção de lanternas de abóboras, com olhos, boca e uma lanterna em seu interior, idênticas às abóboras de Halloween. Essas abóboras eram produzidas nos três dias anteriores ao Dia de Finados, eram erguidas em varas e chamadas de Coco. Durante todo o ano, o Coco amedrontava as crianças da região, pois na tradição oral ele raptava aquelas que eram desobedientes. No folclore espanhol existia na mesma época o Coco, uma espécie de Bicho-Papão que raptava crianças; existia ainda a Coca, sua versão feminina.

Margaret Bakos, egiptóloga brasileira, levantou a hipótese de que a deusa Tuéris, também chamada de Taweret, teria dado origem à lenda da Cuca. Tuéris era uma deusa muito popular no Antigo Egito, representada com corpo de hipopótamo e com cabeça e cauda de crocodilo, embora muitas vezes também fosse representada com a cabeça de hipopótamo. Tuéris era protetora das mulheres grávidas, dos partos e das crianças.

Estátua de Tuéris produzida no Antigo Egito e atualmente em exposição no Museu Metropolitano de Arte. [1]

Cuca no Brasil

A lenda da Cuca chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses e se tornou popular através de cantigas de ninar, a principal delas Nana neném, canção ainda muito popular em todo o país. Na Península Ibérica a Cuca assumia diversas formas, como a de uma bruxa, um espírito ou como um dragão. No nosso país ela originalmente possuía forma humana, mas recebeu influências indígenas e passou a possuir partes de jacaré e gavião por meio da obra de Monteiro Lobato. A Cuca de Monteiro Lobato não deixou de ser uma bruxa, embora com forma reptiliana; ela na maioria das vezes estava próximo de seu caldeirão, onde cozinhava poções mágicas maléficas.

Veja também: Caipora — personagem do folclore brasileiro conhecido por habitar a mata e por proteger os animais de caçadores

Cuca na cultura popular

Na cultura popular brasileira a Cuca estava inicialmente presente na tradição oral, sobretudo em músicas como Nana neném, cantada há muitas gerações no Brasil, com pequenas variações regionais na letra.

Em 1921, Monteiro Lobato publicou a obra O Saci, na qual a Cuca é descrita. Na obra, Pedrinho e o Saci se depararam com a Cuca na seguinte cena:

Súbito, ao dobrarem uma curva, viram lá num canto a rainha. Estava sentada diante duma fogueira, de modo que a claridade das chamas permitia que as “folhagens” lhe vissem a carantonha em toda a sua horrível feiura. Que bicha! Tinha cara de jacaré e garras nos dedos como os gaviões. Quanto à idade, devia andar para mais de três mil anos. Era velha como o Tempo. |1|

A obra ajudou a popularizar a imagem da Cuca reptiliana por todo o território nacional. A partir da década de 1950, com a Cuca sendo apresentada na televisão, a sua popularização se aprofundou.

Músicas da Cuca

A principal música da Cuca no Brasil é uma cantiga de ninar chamada Nana neném. Não sabemos a sua origem, mas existem relatos de ela sendo cantada para as crianças no século XIX.

Nana neném

Nana neném
Que a cuca vem pegar
Papai foi na roça
Mamãe, no cafezal
Bicho-papão
Sai de cima do telhado
Deixa o nenenzinho dormir sossegado

Em 1977, a Rede Globo de Televisão iniciou a apresentação de uma nova série sobre o Sítio Do Picapau Amarelo, também chamada Sítio do Picapau Amarelo, que se tornou muito popular no período. Nela, havia uma música da Cuca que foi muito popular no final dos anos 1970 e por quase toda década de 1980.

A Cuca te pega

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

A Cuca é malvada
E se fica irritada
A Cuca é zangada
Cuidado com ela

A Cuca é matreira
E se fica zangada
E Cuca é danada
Cuidado com ela

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

A Cuca é malvada
E se fica irritada
A Cuca é zangada
Cuidado com ela

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
A Cuca é danada
Ela vai te pegar

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

A Cuca é malvada
E se fica irritada
A Cuca é zangada
Cuidado com ela

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
A Cuca é danada
Ela vai te pegar

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Cuidado com a Cuca
Que a Cuca te pega
E pega daqui
E pega de lá

Acesse também: Tutu — monstro do folclore brasileiro mencionado em canções de ninar e muito associado com o Bicho-Papão

Curiosidades sobre a Cuca

  • Na Península Ibérica, principalmente na Espanha, a Cuca era uma espécie de Bicho-Papão feminino, possuindo diversos aspectos, dependendo da região e período.

  • Em 2021 a Netflix lançou uma série sobre o folclore brasileiro chamada Cidade invisível; nela Alessandra Negrini interpretou a Cuca. A série fez bastante sucesso no Brasil e, em 2023, foi lançada sua segunda temporada, em que a Cuca foi novamente uma das personagens centrais.

  • O Coco, personagem do folclore ibérico, pode ter dado origem às lendas do Bicho-Papão, do Papa-Figo e da Cuca.

  • Em algumas versões ibéricas da lenda, a Cuca é o dragão atacado por São Jorge.

Algumas outras lendas do folclore brasileiro

Algumas outras lendas presentes no folclore brasileiro são as seguintes:

  • Saci-Pererê;

  • Mãe-do-Ouro;

  • Curupira;

  • Negrinho do Pastoreio;

  • Boitatá;

  • Mula sem Cabeça;

  • Caipora;

  • Matinta Perera;

  • Maria Degolada.

Notas

|1| MONTEIRO LOBATO. O Saci. 8. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941.

Crédito de imagem

[1] Museu Metropolitano de Arte – The Met (reprodução)

Fontes

BAKOS, Margaret M. Para além do mediterrâneo: especulações sobre a gênese da Cuca de Monteiro Lobato. PUC-RS, Porto Alegre, 2012.

CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil. Editora Global, Rio de Janeiro, 2017.

FERRARI, Dener Gabriel. FOSCHIERA, Renan Cesar Venazzi. As origens da Cuca de Monteiro Lobato: uma aproximação entre Egito, Portugal e Brasil. XX Semana de Letras da Universidade Federal do Paraná, 2018.

MAGALHÃES, Basílio de. O folclore do Brasil. Edições do Senado Federal, Brasília, 2006.

MONTEIRO LOBATO. O Saci. 8. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941.  

Por: Jair Messias Ferreira Junior

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