A escola pitagórica tem seu nome derivado do nome de seu fundador e principal representante: Pitágoras de Samos.
O período pré-socrático é um marco temporal na história da filosofia para se referir àqueles filósofos que ou nasceram antes de Sócrates ou que eram contemporâneos a ele, mas mantinham seus pensamentos baseados nos mestres antigos e seguindo suas preocupações filosóficas. Em sua maioria, não viviam no continente grego e sim em centros afastados. Compreende a escola jônica, pitagórica, eleática e pluralista.
A escola pitagórica tem seu nome derivado do nome de seu fundador e principal representante: Pitágoras de Samos. Ele defendia que todas as coisas são números e o princípio fundamental de tudo seria a estrutura numérica. Ou seja, o mundo surgiu quando precisou haver uma limitação para o ápeiron e essa limitação eram formas numéricas sobre o espaço. Os pitagóricos faziam um amálgama de concepções, como era comum na época. Desse modo, embora racionais e matemáticos, os pitagóricos também baseavam suas doutrinas em concepções místicas.
Pitágoras e o Orfismo:
Encontramos na Grécia Antiga duas expressões religiosas: a religião pública, aquela que conhecemos pelos poemas de Homero, e a religião dos mistérios, praticada em círculos restritos por aqueles que não consideravam suficiente a religião pública. Esses cultos populares eram estimulados pelos tiranos como forma de enfraquecer o poder da aristocracia no imaginário do povo: os aristocratas se afirmavam como descendentes dos deuses e era isso que os sustentava no poder.
Dentre os “mistérios”, aquele que mais importa para o nascimento da filosofia grega é o Orfismo, nome derivado de seu fundador, o poeta trácio Orfeu. O Orfismo inaugura uma concepção da existência humana distante do naturalismo: enquanto a religião pública considerava o homem mortal, o Orfismo opõe corpo e alma, sendo que o corpo seria mortal, mas não a alma. Uma noção importante deriva dessa oposição: a metempsicose, ou seja, a transmigração da alma em vários corpos até se purificar e retornar à pátria celeste.
É justamente essa noção, que encontra eco no pensamento de Pitágoras, que alguns pensadores vão entender como indício de que Pitágoras fora influenciado pelo pensamento egípcio. Além disso, algumas lendas a respeito dele asseguram que ele era um deus que se encarnou para contribuir para a humanidade. Há sobre ele diversos relatos de viagens – inclusive para o Egito, viagens que John Burnet (2003, p. 91) considera apócrifas – e feitos que o tornaram célebre e uma figura quase lendária.
Um dos relatos, por exemplo, descreve o encontro de Pitágoras com um homem que açoitava um cachorro. Na circunstância, Pitágoras teria reconhecido no latido do cachorro a voz de um amigo – ora, isso para ele era prova de que as almas reencarnam em outros corpos animais, motivo pelo qual ele não recomendava que seus discípulos comessem carne. Outra restrição alimentar que Pitágoras impunha aos seus discípulos era a respeito de feijões: em razão da semelhança entre o feijão aberto e a forma de um feto, Pitágoras acreditava que se o grão fosse colocado em um buraco, em quarenta dias ele se tornaria uma figura humana.
Outras regras que Pitágoras impunha aos seus discípulos foram coletadas por Aristóteles e entre elas incluíam a proibição de comer galos brancos, não partir o pão, não pegar migalhas caídas da mesa e colocar o sal sobre a mesa (apud Kahn, 2007, p. 27).
Vida e obra
Nós falamos aqui em discípulos – e isso tem uma razão: Pitágoras fundou uma comunidade de caráter mítico-filosófico em Crotona. Em comum com os ensinamentos do orfismo, Pitágoras ensinava que todos os seres eram semelhantes entre si porque compartilhavam a mesma origem divina. A presença do divino em tudo é expressa pelo pitagórico Filolau como “harmonia”. Diferente, porém, das ideias do orfismo está o papel do esforço humano para se libertar do processo de reencarnações. Se para os órficos o homem poderia se libertar do ciclo de reencarnações por meio da ajuda do deus Dioniso, para Pitágoras, essa libertação ocorreria por meio da atividade do pensamento.
Pouco se pode saber a respeito da vida de Pitágoras e das ideias por ele desenvolvidas, porque nem ele nem seus discípulos deixaram obras escritas. Mesmo que se possa questionar que as teorias a ele atribuídas foram realmente pensadas por ele, nas fontes antigas, como Diógenes Laércio, Porfírio e Jâmblico, Pitágoras é representado como o fundador da Matemática, da Música, da Astronomia e da Filosofia. Há aqueles que, como Heráclito, o consideravam fraudulento.
Acredita-se que o conteúdo aprendido em sua escola era protegido por um voto de silêncio e podia ser transmitido apenas a membros, que eram escolhidos depois de uma etapa inicial em que ouviam silenciosamente Pitágoras, escondido atrás de uma cortina. O que o mestre pretendia com isso era saber se o candidato a discípulo era capaz de escutá-lo em silêncio, pois era esse o primeiro passo para a compreensão (cf. STRATHERN, 1998, p. 41). Outros autores, no entanto, contestam que havia imposição de segredo aos membros da Escola Pitagórica e defendem que Pitágoras apenas tinha preferência pela transmissão oral de ensinamentos que eram mais sobre modos de vida do que teóricos.
A tradição pitagórica estendeu-se por aproximadamente dez séculos, com muitas ramificações e desdobramentos, como os neopitagóricos. A maior contribuição dos pitagóricos foi a tese de que todas as coisas são números que se relaciona à teoria da harmonia. Vejamos:
O número é o elemento básico da realidade, pois há uma proporção em todo o cosmo. O mundo teria surgido a partir da imposição de formas numéricas sobre o espaço que conferiram limites ao princípio fundamental (a arché). O universo era um conjunto de dez corpos celestes que orbitavam ao redor de um fogo no centro. E o número de corpos celestes era “dez” por conta da tetractys: os quatro primeiros algarismos totalizam dez quando dispostos em forma triangular.
A harmonia musical, por corresponder aos acordes desenvolvidos com base em proporções aritméticas, fez com que Pitágoras supusesse que essa mesma harmonia era encontrada na natureza. Associada à astronomia, essa teoria fez com que Pitágoras pensasse que o universo também era organizado por relações matemáticas. Essa sua teoria ficou conhecida como teoria da harmonia das esferas.
A concepção aritmética de Pitágoras e dos primeiros pitagóricos, como Archytas e Filolau, era além da noção de quantidade. Cada número correspondia a uma noção da realidade: o número 1 correspondia à inteligência; o dois, à opinião; o três, ao todo; o quatro, à justiça; o cinco, ao casamento e o sete, à pontualidade. As principais contribuições da escola pitagórica são encontradas nos campos da matemática, da música e da astronomia.
BURNET, John. Early greek philosophy. 1 ed. KESSINGER PUB, 2003, p. 91
KAHN, C. H. Pitágoras e os pitagóricos: uma breve história. São Paulo: Edições Loyola. 2007. p. 09-56.
STRATHERN, P. Pitágoras e seu Teorema em 90 minutos. Trad.: Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1998. 82 p.
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