Filosofia é um conjunto de sabedorias milenares que surgiram como maneira de questionar-se o conhecimento do senso comum, o que o capitalismo nem sempre vê como algo útil.
Podemos dizer que a filosofia tem, aproximadamente, 2600 anos de existência se considerarmos apenas a tradição filosófica ocidental, de origem grega. Se considerarmos a filosofia oriental, que é um pouco diferente da ocidental, temos um saber ainda mais antigo, que pode atingir mais de 5 mil anos de existência, levando-se em conta a filosofia zen budista ou a filosofia hinduísta.
O que importa é que a filosofia representa um tipo de conhecimento ordenado que visa a superar o senso comum e chegar a um resultado cognitivo mais ordenado e confiável. É por essa característica elementar da filosofia que podemos nomeá-la como ancestral da ciência.
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Etimologia da palavra filosofia
A palavra filosofia foi criada no idioma grego antigo, sendo escrita φιλοσοφία, de onde φιλο (filo ou philos) significa “amigo” e σοφία (sofia ou sophia) significa (sabedoria). O filósofo é, portanto, um “amigo da sabedoria”. O termo, segundo Aristóteles, foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo e matemático antigo Pitágoras de Samos para referir-se ao que ele e os seus sectários pitagóricos faziam.
Conceito de filosofia
A filosofia pode ser construída com base em problemas (problemas filosóficos). Dentro dessa visão, as perguntas expressam os problemas filosóficos. Perguntas que buscam a essência (o que é?) e a causa (por que é?) são as bases da filosofia. Sendo assim, a própria pergunta “o que é a filosofia?” é um problema filosófico.
O livro Filosofando: introdução à filosofia, de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, alega que não existe filosofia, mas filosofias. Não podemos reduzir a filosofia a um único conceito, mas devemos atentar-nos para a diversidade de significados que a filosofia pode apresentar. Se pegarmos, por exemplo, a divisão entre filosofia ocidental (tradição surgida na Grécia) e filosofia oriental (na verdade não é uma vertente filosófica, mas um conjunto de ideias antigas) já podemos entender como a filosofia é diversa e ampla.
O que se chama de filosofia oriental é um conjunto de doutrinas de vida, de modos de viver, sendo algumas delas espiritualistas. O que se chama filosofia no Ocidente começou com o esforço dos gregos antigos por superar a visão mitológica como forma de explicar o mundo. Eles buscavam uma visão racional, baseada em uma boa argumentação e que buscava um sentido lógico no que se afirmava.
Após o início da tradição grega, a filosofia perdurou e passou por inúmeras transformações e adaptações ao longo do tempo. Com a queda do Império Macedônico e a ascensão do Império Romano, as tradições filosóficas gregas foram adaptando-se a um novo estilo de vida.
No século II d.C., novas interpretações sobre a filosofia grega de Platão apareceram, e isso resultou nas bases para o início da filosofia cristã. Os primeiros pensadores cristãos do chamado período patrístico da filosofia, como Santo Agostinho, trouxeram para o exercício filosófico a questão da iluminação divina.
É possível perceber que a filosofia mantém uma plasticidade que a permite adaptar-se aos problemas de cada período histórico. Além disso, a filosofia divide-se em temas específicos, como ética, política, lógica, metafísica etc. Isso provoca uma maior diversificação do que pode ser entendido como filosofia.
Para além das possíveis diferenças e tentando chegar a um consenso sobre o que a filosofia é, podemos dizer que ela é uma fundamentação teórica, racional, que busca pautar-se, pela lógica, na construção de um pensamento embasado. Também pode ser um conjunto de pensamentos e estruturas que fundamentem uma ciência, com é o caso da filosofia do direito, da filosofia da educação, da filosofia da matemática ou da filosofia da ciência.
É consenso quase unânime entre os filósofos, no entanto, que a filosofia não é, em si, uma ciência. Enquanto conjunto de pensamentos organizados, a filosofia foi a primeira estrutura que abriu as portas para preparar o ser humano para o conhecimento científico que se estabeleceu de vez após o século XVI.
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Para que serve a filosofia?
O filósofo francês contemporâneo Gilles Deleuze afirmou que a pergunta “para que serve a filosofia?” pretende-se, muitas vezes, uma pergunta irônica e que deve ser respondida à altura. Para Deleuze, a filosofia não apresenta uma utilidade visível em um mundo capitalista produtivista. Essa mesma visão está presente no livro introdutório Convite à filosofia, da filósofa brasileira Marilena Chaui.
Para a professora emérita da USP, a filosofia não tem utilidade em um mundo que se curva inteiramente ao capital e apenas dá valor àquilo que se apresenta com efeito prático e imediato no mundo. Desse modo, em nosso mundo, só tem valor o objeto, o que é visto, o que existe na prática. A filosofia, que lida com conceitos, com pensamentos e com a problematização, não tem utilidade nesse mundo, e, segundo Chaui, a filosofia orgulha-se disso.
Apesar das acusações de a filosofia ser inútil (e realmente ser sob o ponto de vista apresentado), encontramos a utilidade do pensamento filosófico:
- na potencialidade que ele traz para o conhecimento;
- na possibilidade de conhecer-se o mundo e de estabelecer-se padrões para levar à prova o conhecimento obtido;
- na possibilidade de fazer-se avançar a ciência;
- na possibilidade de estabelecer-se fundamentos racionais e objetivos para entender-se a ética e a política;
- na possibilidade da superação do senso comum e da mediocridade do pensamento comum.
A filosofia possibilita o salto para além do óbvio e que permite também entender o óbvio de maneira mais profunda. Ela é feita de problemas, de perguntas, e serve de estímulo ao pensamento.
Origem da filosofia
A tradição filosófica ocidental teve sua origem na Grécia Antiga. Supõe-se que foi Tales de Mileto o primeiro filósofo. O pensador, que viveu entre 625 a.C. e 545 a.C., foi um viajante, comerciante, matemático e astrônomo. Em suas viagens, ele teve contato com a engenharia egípcia, com a matemática egípcia e arábica, e com a astronomia persa.
Conta-se que o filósofo teria formulado o teorema de Tales com base em uma viagem ao Egito e em muita observação das pirâmides. Conta-se também que ele teria explicado as enchentes periódicas do rio Nilo, antes explicadas de maneira religiosa e mitológica. Também diz-se que Tales teria previsto um eclipse solar por volta do ano de 585 a.C. utilizando apenas seus conhecimentos astronômicos e matemáticos. Os historiadores especulam que esse período seria o de maturidade intelectual do filósofo e o provável momento de nascimento da filosofia.
Tales era habitante da cidade de Mileto, na região então compreendida como Jônia, composição da chamada Ásia Menor. A filosofia nasceu e floresceu no local, sendo que os primeiros herdeiros do pensamento de Tales foram Anaximandro e Anaxímenes, também habitantes de Mileto.
A partir de então, a filosofia foi sendo construída e modificada por todo pensador que se dedicou a conhecer o mundo e sua origem de maneira mais ordenada e racional. Apesar das diferenças dentro dele, esse primeiro movimento filosófico tinha um assunto em comum: a cosmologia.
A cosmologia dos primeiros filósofos foi o esforço de compreender-se a verdadeira origem do Universo. A palavra cosmologia significa, em tradução direta, estudo do Universo, e ela veio concorrer com a cosmogonia da mitologia dos antigos gregos. Cosmogonia significa, também em tradução direta, gênese (ou criação) do Universo.
Cosmogonias são visões míticas que apresentam uma narrativa de origem do Universo atrelada a algum ou alguns seres ou entidades sobrenaturais. No caso da mitologia grega, o surgimento do Universo estava ligado aos titãs e deuses gregos. A visão dos primeiros filósofos era contraposta à visão mitológica, pois ela enxergava que a origem não estava nos deuses e deusas, nem em qualquer entidade sobrenatural, mas na própria natureza.
Muito se especula sobre o porquê da origem da filosofia ser na Grécia, e, de fato, muitos foram os fatores que possibilitaram o florescimento de um pensamento tão original. Os orientais já faziam uma sistematização de conhecimentos que podemos chamar de filosofia, e isso foi passado para os gregos pelo contato com os persas. No entanto, o que os gregos fizeram com o conhecimento filosófico foi além do que os orientais faziam.
Isso evidencia que foi fator marcante o cosmopolitismo das colônias gregas possibilitado por serem um lugar privilegiado na região do mar Mediterrâneo, lugar de encontro de vários povos e várias culturas. Dois outros motivos de tal cosmopolitismo eram o comércio e a utilização de moeda, o que aumentava o fluxo de pessoas nas cidades. Também podemos eleger como fator central a democracia que surgia em Atenas e ecoava em outras cidades gregas, pois a democracia estimulava o livre debate de ideias, algo essencial para a existência da filosofia.
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Filosofia de vida
A expressão “filosofia de vida” não necessariamente compreende uma área de estudo da filosofia. O significado da expressão é bem comum e corriqueiro: chama-se filosofia de vida, basicamente, o modo como se vive e as aspirações que uma pessoa leva para sua vida.
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