A variação linguística no Enem é um dos assuntos cobrados pela interpretação de textos e pela análise do uso da língua. Entender esse fenômeno ajuda a se sair bem na prova.
A variação linguística no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é abordada principalmente na prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Essa prova avalia a competência do candidato em compreender diferentes linguagens e manifestações culturais, além de interpretar textos de diferentes gêneros e estilos.
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Como a variação linguística é cobrada no Enem?
A variação linguística é considerada no Enem como parte integrante da competência comunicativa dos candidatos, tanto na compreensão de textos quanto na produção textual. Ela pode ser cobrada de diversas formas no exame, tais como avaliando as habilidades de interpretar textos, de analisar elementos linguísticos (verbais e até não verbais) e de produzir enunciados.
As questões da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias costumam contar com textos extensos ou tirinhas, que servirão como base para uma ou mais questões que venham a seguir. Os textos apresentados nas questões podem refletir diferentes variações linguísticas, como linguagem formal, informal, regional, técnica, entre outras. Os candidatos são avaliados em sua capacidade de compreender e interpretar essas variações.
As questões também podem exigir que os candidatos identifiquem e analisem elementos específicos da linguagem, como gírias, regionalismos, registros formais e informais, variações de vocabulário, entre outros.
Por fim, na redação, os candidatos podem ser solicitados a produzir textos que levem em consideração a variação linguística adequada ao contexto proposto. Isso pode incluir a escolha de registros formais ou informais, conforme o tema e o gênero textual solicitados.
O que é variação linguística?
A variação linguística refere-se às diferentes formas como uma língua pode ser utilizada, tanto de maneira oral quanto escrita, por diferentes grupos sociais, em contextos diversos e em diferentes regiões geográficas.
Essa variação pode ocorrer em diversos aspectos da linguagem, como fonologia (sons da fala), morfologia (estrutura das palavras), sintaxe (ordem das palavras e estrutura das frases), semântica (significado das palavras e expressões), léxico (vocabulário) e pragmática (uso da linguagem em contextos sociais). Para saber mais detalhes sobre a variação linguística, clique aqui.
Tipos de variação linguística
Há alguns tipos principais de variação linguística.
→ Variação diatópica (geográfica)
Variação diatópica (geográfica) são as diferenças na língua características de diferentes regiões geográficas. Por exemplo, no Brasil, há variações regionais, como o sotaque nordestino, sulista, entre outros, e a variação de vocabulário entre diferentes regiões, como as palavras “mandioca”, “macaxeira” e “aipim”, que se referem à mesma planta. Além disso, há variações entre o português falado em diferentes países, como Angola, Brasil, Moçambique e Portugal.
→ Variação diacrônica (histórica)
Variação diacrônica (histórica) são as diferenças de uso da língua características de diferentes épocas. A língua muda muito com o passar do tempo, por conta de como a sociedade se transforma. Um exemplo é o uso do pronome de tratamento “vossa mercê” (usado no Brasil há alguns séculos), que passou a ser “você” (pronome que usamos nos dias de hoje).
Esse tipo de variação também é muito marcado pela diferença entre gírias usadas por pessoas mais velhas e por pessoas mais novas, como as palavras “legal” (considerada gíria há muitas décadas, mas que se tornou vocábulo de uso corrente), “supimpa” (gíria que caiu em desuso) e “da hora”.
→ Variação diafásica (situacional)
Variação diafásica (situacional) são as diferenças características do contexto e da situação de comunicação, especialmente no que diz respeito ao grau de formalidade exigido na situação. Por exemplo, muda-se o modo de falar dos próprios gostos dependendo da situação: fala-se de um jeito em uma entrevista de emprego, mas de outro em uma roda de amigos próximos.
→ Variação diastrática (grupo social)
Variação diastrática (grupo social) são as diferenças características de grupos sociais, como classe social, educação, idade e ocupação. Essa variação ocorre porque o grupo de pessoas com o qual interagimos também afeta a maneira como usamos a língua.
Um exemplo é a linguagem técnica usada por médicos entre si para falar de uma doença, diferente da linguagem leiga usada entre pessoas que não são médicas. Outro exemplo é a linguagem observada entre grupos de detentos em presídios, que pode ter gírias específicas desconhecidas para quem não pertence a esse grupo.
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Questões sobre variação linguística no Enem
Questão 1
(Enem 2023)
Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma planta. Semáforo, sinaleiro e farol também significam a mesma coisa. O que muda é só o hábito cultural de cada região. A mesma coisa acontece com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embora ela seja a comunicação oficial da comunidade surda no Brasil, existem sinais que variam em relação à região, à idade e até ao gênero de quem se comunica. A cor verde, por exemplo, possui sinais diferentes no Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo. São os regionalismos na língua de sinais.
Essas variações são um dos temas da disciplina Linguística na língua de sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) ao longo do segundo semestre. “Muitas pessoas pensam que a língua de sinais é universal, o que não é verdade”, explica a professora e chefe do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas da Unesp. “Mesmo dentro de um mesmo país, ela sofre variação em relação à localização geográfica, à faixa etária e até ao gênero dos usuários”, completa a especialista.
Os surdos podem criar sinais diferentes para identificar lugares, objetos e conceitos. Em São Paulo, o sinal de “cerveja” é feito com um giro do punho como uma meia-volta. Em Minas, a bebida é citada quando os dedos indicador e médio batem no lado do rosto. Também ocorrem mudanças históricas. Um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o utiliza.
Disponível em: www.educacao.sp.gov.br. Acesso em: 1 nov. 2021 (adaptado).
Nesse texto, a Língua Brasileira de Sinais (Libras)
A) passa por fenômenos de variação linguística como qualquer outra língua.
B) apresenta variações regionais, assumindo novo sentido para algumas palavras.
C) sofre mudança estrutural motivada pelo uso de sinais diferentes para algumas palavras.
D) diferencia-se em todo o Brasil, desenvolvendo cada região a sua própria língua de sinais.
E) é ininteligível para parte dos usuários em razão das mudanças de sinais motivadas geograficamente.
Resolução:
Alternativa A
A Libras é um idioma tal qual a língua portuguesa, portanto, está sujeita aos mesmos fenômenos linguísticos que ocorrem nos outros idiomas, como a variação linguística, o que é abordado no texto da questão de modo mais explícito ao final do primeiro parágrafo. Assim, a alternativa correta é A.
Questão 2
(Enem 2022)
Urgência emocional
Se tudo é para ontem, se a vida engata uma primeira e sai em disparada, se não há mais tempo para paradas estratégicas, caímos fatalmente no vício de querer que os amores sejam igualmente resolvidos num átimo de segundo. Temos pressa para ouvir “eu te amo”. Não vemos a hora de que fiquem estabelecidas as regras de convívio: somos namorados, ficantes, casados, amantes? Urgência emocional. Uma cilada. Associamos diversas palavras ao AMOR: paixão, romance, sexo, adrenalina, palpitação. Esquecemos, no entanto, da palavra que viabiliza esse sentimento: “paciência”. Amor sem paciência não vinga. Amor não pode ser mastigado e engolido com emergência, com fome desesperada. É uma refeição que pode durar uma vida.
MEDEIROS, M. Disponível em: http://porumavidasimples.blogspot.com.br. Acesso em: 20 ago. 2017 (adaptado).
Nesse texto de opinião, as marcas linguísticas revelam uma situação distensa e de pouca formalidade, o que se evidencia pelo(a)
A) impessoalização ao longo do texto, como em: “se não há mais tempo”.
B) construção de uma atmosfera de urgência, em palavras como: “pressa”.
C) repetição de uma determinada estrutura sintática, como em: “Se tudo é para ontem”.
D) ênfase no emprego da hipérbole, como em: “uma refeição que pode durar uma vida”.
E) emprego de metáforas, como em: “a vida engata uma primeira e sai em disparada”.
Resolução:
Alternativa E
Essa questão pede a análise de muitos fatores linguísticos, como figuras de linguagem, gênero textual e variação linguística ao tratar da “situação distensa” e da “pouca formalidade” permitidas naquele gênero. No texto, há diversos exemplos de metáforas, principalmente na primeira e na última frases. Assim, a alternativa E é a correta.
Questão 3
(Enem 2021)
Os linguistas têm notado a expansão do tratamento informal. “Tenho 78 anos e devia ser tratado por senhor, mas meus alunos mais jovens me tratam por você”, diz o professor Ataliba Castilho, aparentemente sem se incomodar com a informalidade, inconcebível em seus tempos de estudante. O você, porém, não reinará sozinho. O tu predomina em Porto Alegre e convive com o você no Rio de Janeiro e em Recife, enquanto você é o tratamento predominante em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador. O tu já era mais próximo e menos formal que você nas quase 500 cartas do acervo on-line de uma instituição universitária, quase todas de poetas, políticos e outras personalidades do final do século XIX e início do XX.
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 21 abr. 2015 (adaptado).
No texto, constata-se que os usos de pronomes variaram ao longo do tempo e que atualmente têm empregos diversos pelas regiões do Brasil. Esse processo revela que
A) a escolha de “você” ou de “tu” está condicionada à idade da pessoa que usa o pronome.
B) a possibilidade de se usar tanto “tu” quanto “você” caracteriza a diversidade da língua.
C) o pronome “tu” tem sido empregado em situações informais por todo o país.
D) a ocorrência simultânea de “tu” e de “você” evidencia a inexistência da distinção entre níveis de formalidade.
E) o emprego de “você” em documentos escritos demonstra que a língua tende a se manter inalterada.
Resolução:
Alternativa B
Esta questão aborda a variação linguística tanto histórica quanto situacional, falando sobre o uso dos pronomes “tu” e “você” no Brasil. Seguindo a ideia apresentada no texto, a alternativa correta é B.
Fontes:
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.