Foco narrativo e tipos de narrador no Enem

O foco narrativo e os tipos de narrador têm a ver com o ponto de vista daquele que conta uma história. São conceitos cobrados no Enem, em questões de interpretação de texto.

O ponto de vista faz toda a diferença em uma história.

Foco narrativo e tipos de narrador, no Enem, aparecem, principalmente, como conceitos que auxiliam o(a) candidato(a) na interpretação de textos e enunciados. Portanto, ele(a) precisa saber que o narrador é a voz narrativa, isto é, quem conta a história.

Esse narrador pode ser narrador-personagem (participa dos acontecimentos), observador (não participa dos eventos e só relata o que observa) e onisciente (tem conhecimento bastante amplo acerca dos fatos e dos personagens).

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Resumo sobre foco narrativo e tipos de narrador no Enem

  • Foco narrativo é o ponto de vista do narrador.
  • Narrador é aquele que conta a história.
  • Os tipos de narrador são: personagem, observador e onisciente.
  • Saber tais conceitos auxilia o(a) candidato(a) no entendimento de textos e enunciados do Enem.

Videoaula sobre tipos de narrador ou tipos de foco narrativo

Como foco narrativo e tipos de narrador caem no Enem?

As questões podem explorar os seguintes aspectos:

  • Marcas linguísticas que demonstrem o ponto de vista do narrador.
  • Noção do que é um narrador e quais são os seus tipos.
  • Conhecimento sobre esse tema para eliminar alternativas.
  • Conhecimento sobre esse tema como auxiliar na interpretação textual.
  • Identificação dos narradores dos textos por parte do(a) leitor(a).
  • Capacidade de perceber as intenções do narrador.
  • Capacidade de perceber o deslocamento do ponto de vista na narrativa.

O que é foco narrativo?

Toda história é contada a partir do ponto de vista daquele que narra. Chamamos cada um desses pontos de vista de foco narrativo. Portanto, o narrador pode relatar um fato do qual ele participa como personagem ou estar de fora dos acontecimentos e, assim, apresentar uma perspectiva mais imparcial.

O que é e quais os tipos de narrador?

O narrador é aquele que narra os acontecimentos. Ele pode ser uma pessoa real, mas também pode ser um personagem ou mesmo um recurso literário utilizado para contar determinada história. Assim, existem os seguintes tipos de narrador:

  • Personagem

É aquele que participa da história narrada em primeira pessoa:

“Peguei uma revista e sentei no capim, recebendo os raios solar para aquecer-me. Li um conto. Quando iniciei outro surgiu os filhos pedindo pão. Escrevi um bilhete e dei ao meu filho João José para ir ao Arnaldo comprar um sabão, dois melhoraes e o resto pão. Puis agua no fogão para fazer café. O João retornou-se. Disse que havia perdido os melhoraes. Voltei com ele para procurar. Não encontramos.”

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 1993.

  • Observador

É aquele que narra a história, em terceira pessoa, sem participar dos eventos narrados e, portanto, conta apenas aquilo que vê, ou melhor, observa:

“O Diretor abriu uma porta. Entraram numa ampla sala vazia, muito clara e ensolarada, pois toda a parede do lado sul era ocupada por uma única janela. Meia dúzia de enfermeiras, com as calças e jaquetas do uniforme regulamentar de linho branco de viscose, os cabelos assepticamente cobertos por toucas brancas, estavam ocupadas em dispor vasos com rosas sobre o assoalho, numa longa fila, de uma extremidade à outra da sala.”

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Tradução de Lino Vallandro e Vidal Serrano. 22. ed. São Paulo: Globo, 2014.

  • Onisciente

Também chamado de onipresente, esse narrador, em terceira pessoa, narra os fatos sem participar dos acontecimentos. Ele se diferencia do narrador observador por apresentar uma visão mais ampla da história e de seus personagens, a ponto de conhecer seus pensamentos e sentimentos mais íntimos:

“Assim ela ficou pensando consigo mesma (da melhor maneira possível, pois o dia quente a fazia se sentir muito sonolenta e estúpida) se o prazer de fazer uma corrente de margaridas valeria o esforço de se levantar e colher as margaridas, quando de repente um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou correndo perto dela.”

CARROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. Tradução de Rosaura Eichenberg. Porto Alegre: L&PM, 2015.

Veja também: Como estudar Literatura para o Enem 

Exercícios sobre foco narrativo e tipos de narrador no Enem

Questão 1

Miguilim

“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.

— Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?

— Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.

O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia:

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?

Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.

— Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?

— É Mãe, e os meninos...

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada.

O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo:

— ‘Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?’”

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Essa história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:

A) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”

B) “Ele era de óculos, corado, alto [...].”

C) “O homem esbarrava o avanço do cavalo, [...].”

D) “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, [...].”

E) “Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos.”

Resolução

Alternativa A.

Nessa questão, o(a) candidato(a) precisa encontrar uma marca linguística que possa indicar o ponto de vista de Miguilim utilizado pelo narrador observador, isto é, o advérbio “cá” (alternativa “a”), que sugere a proximidade do cavalo em relação ao menino.

Questão 2

Depois de um bom jantar: feijão com carne-seca, orelha de porco e couve com angu, arroz-mole engordurado, carne de vento assada no espeto, torresmo enxuto de toicinho da barriga, viradinho de milho verde e um prato de caldo de couve, jantar encerrado por um prato fundo de canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé saboreou o café forte e se estendeu na rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa de travesseiro, o indefectível cigarro de palha entre as pontas do indicador e do polegar, envernizados pela fumaça, de unhas encanoadas e longas, ficou-se de pança para o ar, modorrento, a olhar para as ripas do telhado.

Quem come e não deita, a comida não aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se a cochilar. A sua modorra durou pouco; Tia Policena, ao passar pela sala, bradou assombrada:

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não! Num presta... Dá pisadêra e póde morrê de ataque de cabeça! Despois do armoço num far-má... mais despois da janta?!

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.

Nesse trecho, extraído de texto publicado originalmente em 1921, o narrador

A) apresenta, sem explicitar juízos de valor, costumes da época, descrevendo os pratos servidos no jantar e a atitude de Nhô Tomé e de Tia Policena.

B) desvaloriza a norma culta da língua porque incorpora à narrativa usos próprios da linguagem regional das personagens.

C) condena os hábitos descritos, dando voz a Tia Policena, que tenta impedir Nhô Tomé de deitar-se após as refeições.

D) utiliza a diversidade sociocultural e linguística para demonstrar seu desrespeito às populações das zonas rurais do início do século XX.

E) manifesta preconceito em relação a Tia Policena ao transcrever a fala dela com os erros próprios da região.

Resolução

Alternativa A.

Nesse caso, o(a) candidato(a) precisa conhecer o conceito de narrador para entender o enunciado da questão, cuja alternativa correta é a letra “a”.

Questão 3

O canto do guerreiro

Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?

Gonçalves Dias.

Macunaíma

(Epílogo)

Acabou-se a história e morreu a vitória.

Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?

Mário de Andrade.

A leitura comparativa dos dois textos acima indica que

A) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico.

B) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil.

C) as perguntas “— Quem há, como eu sou?” (1o texto) e “Quem podia saber do Herói?” (2o texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira.

D) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil.

E) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto.

Resolução

Alternativa C.

Nessa questão, cuja alternativa correta é a letra “c”, o(a) candidato(a) necessita saber o que é um narrador para perceber que, no segundo texto, ele não é um indígena.

Questão 4

No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

A) [...] o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas [...]

B) [...] era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça [...]

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, [...]

D) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos [...]

E) [...] o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

Resolução

Alternativa A.

Novamente, o conhecimento do(a) candidato(a) acerca do que é um narrador é exigido para o entendimento do enunciado da questão, cuja alternativa correta é a letra “a”.

Questão 5

A partida

Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.

Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?

LINS, O. “A partida”. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.

No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho:

A) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir”.

B) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco”.

C) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama”.

D) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor”.

E) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras [...]”.

Resolução

Alternativa E.

Essa questão exige que o(a) candidato(a) saiba o que é um narrador-personagem. Desse modo, o(a) leitor(a) precisa identificar esse tipo de narrador para perceber que seu sentimento contraditório está expresso no trecho destacado na alternativa “e”.

Questão 6

Texto I

[...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda “ordem”; mas não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio — definitivamente fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...].

NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

Texto II

Raduan Nassar lançou a novela Um Copo de Cólera em 1978, fervilhante narrativa de um confronto verbal entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o autoritário discurso do poder e da submissão de um Brasil que vivia sob o jugo da ditadura militar.

COMODO, R. Um silêncio inquietante. IstoÉ. Disponível em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.

Na novela Um copo de cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos típicos da literatura produzida na década de 70 no Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e amargura política”. Com relação à temática abordada e à concepção narrativa da novela, o texto I

A) é escrito em terceira pessoa, com narrador onisciente, apresentando a disputa entre um homem e uma mulher em linguagem sóbria, condizente com a seriedade da temática político-social do período da ditadura militar.

B) articula o discurso dos interlocutores em torno de uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem simples e objetiva, que busca traduzir a situação de exclusão social do narrador.

C) representa a literatura dos anos 70 do século XX e aborda, por meio de expressão clara e objetiva e de ponto de vista distanciado, os problemas da urbanização das grandes metrópoles brasileiras.

D) evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de tom agressivo.

E) traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir do ponto de vista interno, os dramas psicológicos da mulher moderna, às voltas com a questão da priorização do trabalho em detrimento da vida familiar e amorosa.

Resolução

Alternativa D.

Nessa questão, cuja alternativa correta é a letra “d”, para o entendimento das alternativas “a” e “b”, o(a) candidato(a) necessita saber o conceito de narrador e quais os seus tipos.

Questão 7

TEXTO I

O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?

MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento).

TEXTO II

João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.

SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).

Com base no trecho de Morte e vida severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala/ ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da

A) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.

B) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação.

C) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição.

D) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.

E) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.

Resolução

Alternativa C.

A alternativa correta é a letra “c”, pois a resposta à pergunta está relacionada à “representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição”. Porém, o(a) leitor(a) precisa identificar o personagem-narrador para chegar a tal conclusão.

Questão 8

Mudança

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio. As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.

RAMOS, G. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008 (fragmento).

Valendo-se de uma narrativa que mantém distanciamento na abordagem da realidade social em questão, o texto expõe a condição de extrema carência dos personagens, acuados pela miséria.

O recurso utilizado na construção dessa passagem, o qual comprova a postura distanciada do narrador, é a

A) caracterização pitoresca da paisagem natural.

B) descrição equilibrada entre os referentes físicos e psicológicos dos personagens.

C) narração marcada pela sobriedade lexical e sequência temporal linear.

D) caricatura dos personagens, compatível com o aspecto degradado que apresentam.

E) metaforização do espaço sertanejo, alinhada com o projeto de crítica social.

Resolução

Alternativa C.

A narração apresenta sobriedade lexical, pois utiliza poucos adjetivos, de forma que seu caráter descritivo tende para a objetividade. Além disso, o narrador opta por relatar os fatos de maneira linear, sem recorrer a flashbacks, que poderiam levar a uma análise mais subjetiva dos fatos. Isso nos permite concluir que a alternativa correta é a letra “c”.

Questão 9

Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero […].
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.

ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominimopublico.gov.br. Acesso em: 9 out. 2015.

No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)

A) indignação face à suspeita do adultério da esposa.

B) tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.

C) espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.

D) prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio.

E) superação do ciúme pela comoção decorrente da morte.

Resolução

Alternativa D.

Nessa questão, novamente, o ponto de vista do narrador sofre influência da perspectiva de uma personagem. Nesse caso, isso é evidenciado pelo advérbio “deliciosamente”, que demonstra o “prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio” (alternativa “d”) e não o prazer do narrador da história. 

Por: Warley Souza

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