A presidente Dilma Rousseff oficializou que 31 de Outubro é o dia da poesia no Brasil e o poeta homenageado é Carlos Drummond de Andrade.
De origem grega, a palavra “poesia” significa “criação”. Definida como a arte de escrever em versos, a poesia é tida como uma das possíveis manifestações de beleza por um ser. Este, que é o criador de uma das artes mais tradicionais da humanidade, é o poeta.
Ao longo dos séculos, muitos foram os poetas que falaram de suas percepções do mundo para o mundo. E é por isso que eles não foram deixados de lado nas datas comemorativas de nosso calendário. No Brasil, o dia 20 de Outubro é dedicado a esses, como já disse Fernando Pessoa, fingidores.
O Fingidor
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração
Fernando Pessoa
Os poetas, então, são aqueles que transformam – construindo ou reconstruindo – tudo aquilo que sentem e pensam em poesia. Ela é um dos feitos de maior beleza que temos para contemplar. Não importa se é feita com rimas ou se os versos são livres, há em todas elas um toque de perfeição.
A história da poesia no Brasil começou no século XVI com o padre José de Anchieta, membro da Companhia de Jesus, que tinha como objetivo a evangelização no período de colonização do Brasil. Ao longo dos séculos, foram vários os momentos da poesia brasileira. Conheça alguns:
Períodos literários no Brasil
Podemos perceber, portanto, que, no Brasil, a poesia é uma das artes que acompanharam toda a história do país tupiniquim. Por isso, em junho de 2015, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.131/2015, que criou oficialmente o Dia Nacional da Poesia: 31 de Outubro.
Antes desse decreto, a poesia era celebrada no dia 14 de Março, mas essa não era uma comemoração oficial. Houve um projeto de Lei que pretendia homenagear o poeta Castro Alves, nascido no dia 14 de Março; entretanto, a proposta não foi oficializada e o Projeto foi arquivado.
A nova proposta, sugerida pelo Senador Álvaro Dias, tem como poeta homenageado um dos autores mais influentes do Brasil: Carlos Drummond de Andrade. Segundo o autor da proposta, Drummond é um dos escritores mais lidos pela população brasileira e exerce constante influência nas práticas de ensino e aprendizagem da poesia, além de ser presença garantida na prática de escrita de novos poetas. O poeta Carlos Drummond de Andrade, nascido no dia 31 de Outubro, em 1902, na cidade de Itabira, em Minas Gerais, marca o nosso calendário, dessa forma, com o Dia Nacional da Poesia.
Confira alguns dos poemas de Drummond:
O amor antigo
Carlos Drummond de Andrade
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Receita de ano novo
Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
José
Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.