A transmissão da doença de Chagas pelo açaí é um tema que nos faz repensar a respeito das condições de processamento dos nossos alimentos.
A doença de Chagas é bastante conhecida por comprometer o coração e o sistema digestório, podendo levar à morte se não tratada corretamente. É causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida, normalmente, por insetos hematófagos triatomíneos chamados popularmente de barbeiros.
Além desse modo de transmissão, a doença de Chagas pode ser adquirida através de transfusão de sangue, transplante de órgãos, da mãe para o bebê (transmissão congênita) e de maneira oral por meio de alimentos contaminados. O que muitos não sabem é que a ingestão de açaí processado sem as devidas medidas de higiene pode ser também uma fonte de transmissão da doença de Chagas.
O açaí é um fruto da palmeira Euterpe oleracea, espécie da família Arecaceae encontrada na Floresta Amazônica. Bastante consumido em todo o Brasil, o fruto é saboreado de várias maneiras, tais como na forma de polpa, geleia, licor, sorvete e pasteurizado.
O problema do consumo do açaí está no fato de que muitos lugares não se preocupam com a forma correta de higienização. Normalmente, ao processar os caroços, o barbeiro acaba sendo adicionado à mistura, causando a contaminação do produto por protozoários. Além disso, o açaí pode ser contaminado pelas fezes do inseto triatomíneo.
Apesar de parecer pouco provável, esse modo de contaminação é comum e responsável por surtos em vários locais do Brasil. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, entre 2000 e 2011, foram registrados mais de 1200 casos de Chagas, sendo 70% deles em decorrência da ingestão de alimentos contaminados pelo protozoário.
Para prevenir-se da doença de Chagas causada pela ingestão de alimentos, é importante verificar se a higienização correta dos frutos foi feita. Várias pesquisas confirmaram que a polpa contaminada é capaz de transmitir a doença de Chagas mesmo se for submetida a baixas temperaturas e congelada. Quando o material a ser consumido é industrializado, o risco é praticamente nulo, pois o processo de pasteurização é eficaz em destruir o T. cruzi.
Percebe-se, portanto, que atenção maior deve ser dada à ingestão de alimentos frescos. Sendo assim, ao consumir esses produtos, certifique-se de que o local passou pela vistoria da Vigilância Sanitária.
Curiosidade: Em 2005, um surto de doença de Chagas em Santa Catarina acometeu 31 pessoas. Todas essas pessoas foram contaminadas após ingerir um caldo de cana contaminado com protozoários. Acredita-se que o barbeiro foi processado com a cana ou as fezes do inseto contaminaram o material.